domingo, 18 de janeiro de 2009

Como habitualmente... dos nossos Amigos da Escola Secundária Daniel Faria – Baltar (Clube de Contadores de Histórias)...


A FLOR E O SINO


Como é que uma flor e um sino podem caber na mesma história?Há-de ser difícil. A flor tão rasteira e o sino tão alto nada têm a ver um com o outro. Hão-de pertencer a histórias diferentes.Talvez sim e talvez não…A flor tinha acordado, na ponta de um caule, quando o sino se pôs a badalar. Abriu-se de espanto, porque nunca tinha ouvido música assim: tlim-dlão-dlim…Mas tudo tem uma lógica, um começo, um antes do que está para vir. Nós contamos.A erva donde a flor nascera tinha rompido a terra como um dedo espetado, que quer chamar a atenção:— Perguntem-me porque nasci — gritava a erva, numa vozinha de erva-fina.Ninguém lhe perguntava.E ela, impaciente, sempre na sua:— Perguntem-me porque nasci. Perguntem-me.Estávamos bem servidos, se tivéssemos de dar conversa a todas as ervas do caminho…— Então, não querem saber? Perguntem-me — teimava a erva.Fartos de ouvi-la, debruçámo-nos, enfim, para a ervinha.Logo ela, muito direita, na sua importância de erva fresca, nos disse:— Nasci, sabem porquê? Nasci para dar uma flor.Olha a admiração! Nisto o sino, tlim-dlão-dlim, tlim-dlão-dlim, e apareceu a flor.— Quem me chama? Quem me chama? — perguntou a flor, que nasceu a falar.O sino anunciava um casamento. Era o José mais a Maria que iam casar.O noivo, antes de entrar na igreja, colheu, à beira da estrada, uma flor com que enfeitou a lapela. Logo por coincidência, a flor que tinha acabado de nascer.Aí têm como um sino e uma flor podem caber na mesma história. Mas não acaba aqui.Passado tempo, a flor desprendeu-se da lapela. Já tinha dado um ar da sua graça. Secou, desfez-se, juntou-se à terra. É sempre assim.Na Primavera seguinte, mais coisa menos coisa, o sino outra vez a badalar: tlim-dlão-dlim, tlim-dlão-dlim. Desta vez, era um baptizado, o do menino José Maria, filho de Maria e do José.Depois, houve boda. No centro da mesa, um grande ramo de flores campestres, iguais à que viveu nesta história.Tudo se multiplica. Pelos tempos fora, o sino vai voltar a bater e as flores a crescer. É uma história que não acaba.


António Torrado


Sem comentários:

ESPAÇO EXPOSIÇÃO TEMPORÁRIA.... 25 DE ABRIL